segunda-feira, 6 de maio de 2013

07 - Abaçaí / abacalhoar / Abacamartado / Abaçanado / Abaçanar


Urerê agachou na beira do rio para beber água. Sentiu uma presença em suas costas. Por intuição, mergulhou no rio sem olhar para trás. Boiando no trecho mais calmo das águas, viu outro indio no mesmo local onde havia agachado.
"Quem é?" Gritou.
"Sou eu, o seu perseguidor."
"Suma. Suma daqui. Você é um Abaçaí."
"Pegue na água esse peixe. Vou abacalhoar ele para o jantar."
Urerê sentiu então um peixe roçar sua mão submersa. Prontamente o afugentou e então nadou até a margem oposta. Saiu da água e correu para a mata fechada. Topou com o seringueiro Matias, único morador branco da região. Ele segurava um tronco de madeira abacamartado.
"Calma lá, indio. Seu lado de caça é pra lá. Pode voltar."
"Um Abaçaí me persegue."
"Não quero confronto tribal aqui. Volte!"
"Me dá o tronco. Estou de mãos vazias."
O seringueiro Matias entregou a madeira para Urerê, esperando dar fim a chateação. De volta a margem, viu o Abaçaí no mesmo ponto, deitado sobre folhas secas. Então apontou o tronco abacamartado e gritou: "Vou te matar com o chumbo". O Abaçaí pôs-se de pé.
"Acha que sou como a anta? Não caio nessa. É truque de homem branco. Fraco."
Matias surge da mata, vindo para conferir se o indio retornara para o lado certo do rio.
"Isso é ridiculo. Vamos, nade para o outro lado."
Furioso, o Abaçaí rogou uma praga: "Como o abaçanado de minha pele, vai o homem branco abaçanar. Abaçanado então, te seguirei por toda a vida, até enlouquecer!"
Matias retirou um revolver de sua cintura e atirou em Urerê. Mirou no Abaçaí e atirou mais duas vezes. Urerê tombou sem vida dentro do rio. Abaçaí urrou, com um ferimento no estomago. Mancou para o meio da mata. Matias guardou a arma, satisfeito. Apenas no fim do dia, em sau casa, viu com horror no espelho, seu rosto abaçanado.

S.F.

06- a.ba.bo.ne/ a.ba.bo.sar/ a.ba.bu.í/ a.ba.cá/ a.ba.ca.do



Um pé de ababone,duas asas de morcego,pele de rato,duas pitadas de veneno em pó e pernas de aranha.Esse era o feitiço que Morgana preparava para fazer com que o príncipe se enamorasse dela.Ela ficava a ababosar por entre os cantos do castelo, totalmente envolvida com suas fantasias,mas dessa noite ele não escaparia,não mesmo.Morgana trabalhava em um open bar em Pinheiros,era um restaurante mexicano e nas sextas tocava sertanejo universitário.Príncipe era o nome de Carlos,que tinha uma dupla com Felipe e se chamavam Príncipe e Plebeu.Depois que ela leu alguns livros de bruxaria, pensou em dar essa poção pra ele quando ele fosse ao bar pedir algum drink. O ababuí tinha sido colhido fazia tempos, mas ela achava que não faria diferença. As cadeiras do bar eram todas revestidas de tecido de abacá,era um lugar charmoso. Morgana pegava o abacado para preparar Guacamole quando Carlos pediu um drink sem olhar nos olhos dela...Morgana pegou a poção e despejou no copo,completou com Curaçao blue,uma rodela de laranja,um guarda-chuvinha e um canudo.Hoje moram juntos,Carlos desistiu da música,eles tem um quiosque na Praia Grande onde vendem drinks que Morgana prepara. Alguns deles são mais caros que os outros.
 L.P.

05 - ababila / ababocado / ababelado / ababelar / ababil



Mussá fitava o horizonte dourado do deserto já há horas. Daila, a esposa, agachou-se ao seu lado, na varanda do quarto, preocupada com o silêncio do marido.
"Mussá, me conte sua preocupação? O que vem do infinito das areias?"
Sem tirar os olhos do longinquo limite de sua visão, limitou-se a pedir um jarro de água.
Daila encheu dois copos. Um para si e o outro colocou entre os dedos do homem. Eis que Mussá agitou-se, o copo perdeu-se no chão.
"Mussá, Mussá, o que ocorre?"
Ele apontava para a frente, trêmulo, as faces vermelhas.
"Ababil, um Ababil, Daila. Olhe! Alá condena nossas vidas de pecado."
O copo de Daila também foi ao chão. Juntos viram nascer, no horizonte do Saara, um ciclone de areia, uma imensa coluna ababelada e escura, recheada de trovões retumbando em seu interior.
"Vamos descer, vamos correr"
"Vamos morrer, Mussá".
No quintal, puderam ver a sombra do topo da coluna abraçando as paredes da casa. E então essa coluna dividiu-se em duas e o casal se abraçou ababocado pelo som violento que pousava no telhado.
"Daila, são ababil e ababila... Suba na..."
O casal levantou vôo no turbilhão ensandecido dos demônios ianques, ababelaram seus corpos com a força do vento.
"Burn the house down... big bad bada boom... soldier!"
Apache Thunder Thor e Apache Tomahawk completaram a missão e retornaram para base. Mussá e Daila tornaram-se apenas vestigios, carregados por Alá, nas asas mortais de Ababil e Ababila.

S.F.

04- a.ba.ba.lhar /a.ba.ba.lho /a.ba.ba.lo.a.lô /a.ba.ban.ga.í /a.ba.be


Jurema não parava de ababalhar pelo vocalista da banda,dei alguns cutucões e olhei feio,fiquei com raiva e fui pegar uma cerveja, não havia bebido sequer um ababalho desde que chegáramos ao show.Pedi a cerveja e voltei,alguns bêbados dançavam como ababaloalô,como que possuídos por alguma entidade,Jurema ainda hipnotizada pelo gringo com voz de sirene.Deixei-a ali, no transe e saí para fumar...na área de fumantes existia vários ababangaís,dalí se enchergava a Lua...me senti um ababe navegando os céus por entre as nuvens,o Lsd que havia tomado começou a fazer efeito...o show acabou e percebi que Jurema estava saindo abraçada com o gringo,coloquei os fones de ouvido e espanquei os dois em pensamento...voltei a pé para casa,assoviando o solo de Confortably Numb.

L.P.

03 - aba / ababa/ ababadados / ababadar / ababaia



“Entorta a aba do boné, moleque! Aba reta é do capeta”.
“Mas mãe...”
“Fica quieto. Me passa a ababa que vou fazer um chorume pra Jesus”.
“Mãe, Jesus não come gordura!”.
A mãe deu um safanão na cabeça do filho que imediatamente a aba do boné voltou a ser reta.
“Entorta essa aba, criatura”.
O garoto ajoelhou aos pés da mãe e apertou as mãos no ababado do vestido dominical.
“Tu quer ababadar mais ainda o ababado, ô disgraça”?
“Mãe, vê se perdoa eu”!
Gentilmente a mãe acariciou o rosto do garoto e entortou novamente a aba do boné que teimosamente voltara à forma de prancha.
“Felipino, amor da mamãe, te perdoo. Agora vá na ababaia e pega uns frutos verdes que vou terminar o chorume de Jesus”.
“Mas mãe, Jesus não come gor...”
E tomou outro safanão. O garoto seguiu tristonho para a ababaia, com a aba reta novamente.

S.F.

02- a.a.rô.ni.co /a.a.rô.ni.das /a.a.ro.ni.ta /a.a.ru /ã.a.tá



Aarônico, era assim que brincávamos de chamar Aarônidas,meu irmão,porque ele era irônico e sempre mal humorado.Um dos meus tios chama-se Moisés,que ironicamente é gago e ateu.
Diz meu pai que a minha irmã,que ainda está na barriga da minha mãe se chamará Aaronita. Espero que ela se rebele e troque de nome.Durante minha infância acordava de manhã e comia um Aaru,minha mãe preparava muito bem,coisa de gente do Mato Grosso.Diz ela que andava com os índios quando era pequena,deslizando pelos rios com sua ãatá,nunca acreditei.Nome do meu pai é Marco,meu nome é Isaias Feliciano...quando crescer quero ser igual meu pai,pastor.

L.P.

01- aal/ aalclim / aaleniano / aalênio / aaquênio /



Três irmãos, Aaleniano, Aalênio, Aaquênio, após arrastarem-se pelas areias escaldantes do deserto, toparam com um camelo morto. A carcaça do animal estava comida pela metade. Aalênio cheirou a carne rasgada e avisou seus irmãos de que ainda estava fresca. Os três beberam do sangue e comeram da carne, desesperados que estavam pelo castigo do Saara. Aaquênio ergueu a cabeça e cuspiu tudo o que mastigava. Com terrivel dor, espargiu  pelas areias. Aalênio cheirou mais uma vez a carne, provou mais uma vez o sangue. Olhou então para Aaleniano e disse: "Este camelo foi abatido por mercadores da morte. Dos restos que não mais lhes serviam, misturaram pedaços de aalclim e então besuntaram com aal para mascarar o forte cheiro de veneno"! Ao término da fala, a garganta em brasa, o sangue vazando dos olhos, Aalênio viu mortos os irmãos e enterrou todo seu corpo para dentro da carcaça, de modo a servir de aviso para outros incautos.

S.F.