segunda-feira, 6 de maio de 2013
06- a.ba.bo.ne/ a.ba.bo.sar/ a.ba.bu.í/ a.ba.cá/ a.ba.ca.do
Um pé de ababone,duas asas de morcego,pele de rato,duas pitadas de
veneno em pó e pernas de aranha.Esse era o feitiço que Morgana preparava
para fazer com que o príncipe se enamorasse dela.Ela ficava a ababosar
por entre os cantos do castelo, totalmente envolvida com suas
fantasias,mas dessa noite ele não escaparia,não mesmo.Morgana trabalhava
em um open bar em Pinheiros,era um restaurante mexicano e nas sextas
tocava sertanejo universitário.Príncipe era o nome de Carlos,que tinha
uma dupla com Felipe e se chamavam Príncipe e Plebeu.Depois que ela leu
alguns livros de bruxaria, pensou em dar essa poção pra ele quando ele
fosse ao bar pedir algum drink. O ababuí tinha sido colhido fazia
tempos, mas ela achava que não faria diferença. As cadeiras do bar eram
todas revestidas de tecido de abacá,era um lugar charmoso. Morgana
pegava o abacado para preparar Guacamole quando Carlos pediu um drink
sem olhar nos olhos dela...Morgana pegou a poção e despejou no
copo,completou com Curaçao blue,uma rodela de laranja,um guarda-chuvinha
e um canudo.Hoje moram juntos,Carlos desistiu da música,eles tem um
quiosque na Praia Grande onde vendem drinks que Morgana prepara. Alguns
deles são mais caros que os outros.
L.P.
05 - ababila / ababocado / ababelado / ababelar / ababil
Mussá fitava o horizonte dourado do deserto já há horas. Daila, a
esposa, agachou-se ao seu lado, na varanda do quarto, preocupada com o
silêncio do marido.
"Mussá, me conte sua preocupação? O que vem do infinito das areias?"
Sem tirar os olhos do longinquo limite de sua visão, limitou-se a pedir um jarro de água.
Daila encheu dois copos. Um para si e o outro colocou entre os dedos do
homem. Eis que Mussá agitou-se, o copo perdeu-se no chão.
"Mussá, Mussá, o que ocorre?"
Ele apontava para a frente, trêmulo, as faces vermelhas.
"Ababil, um Ababil, Daila. Olhe! Alá condena nossas vidas de pecado."
O copo de Daila também foi ao chão. Juntos viram nascer, no horizonte
do Saara, um ciclone de areia, uma imensa coluna ababelada e escura,
recheada de trovões retumbando em seu interior.
"Vamos descer, vamos correr"
"Vamos morrer, Mussá".
No quintal, puderam ver a sombra do topo da coluna abraçando as paredes
da casa. E então essa coluna dividiu-se em duas e o casal se abraçou
ababocado pelo som violento que pousava no telhado.
"Daila, são ababil e ababila... Suba na..."
O casal levantou vôo no turbilhão ensandecido dos demônios ianques, ababelaram seus corpos com a força do vento.
"Burn the house down... big bad bada boom... soldier!"
Apache Thunder Thor e Apache Tomahawk completaram a missão e retornaram
para base. Mussá e Daila tornaram-se apenas vestigios, carregados por
Alá, nas asas mortais de Ababil e Ababila.
S.F.
04- a.ba.ba.lhar /a.ba.ba.lho /a.ba.ba.lo.a.lô /a.ba.ban.ga.í /a.ba.be
Jurema não parava de ababalhar pelo vocalista da banda,dei alguns
cutucões e olhei feio,fiquei com raiva e fui pegar uma cerveja, não
havia bebido sequer um ababalho desde que chegáramos ao show.Pedi a
cerveja e voltei,alguns bêbados dançavam como ababaloalô,como que
possuídos por alguma entidade,Jurema ainda hipnotizada pelo gringo com
voz de sirene.Deixei-a ali, no transe e saí para fumar...na área de
fumantes existia vários ababangaís,dalí se enchergava a Lua...me senti
um ababe navegando os céus por entre as nuvens,o Lsd que havia tomado
começou a fazer efeito...o show acabou e percebi que Jurema estava
saindo abraçada com o gringo,coloquei os fones de ouvido e espanquei os
dois em pensamento...voltei a pé para casa,assoviando o solo de
Confortably Numb.
L.P.
03 - aba / ababa/ ababadados / ababadar / ababaia
“Entorta a aba do boné, moleque! Aba reta é do capeta”.
“Mas mãe...”
“Fica quieto. Me passa a ababa que vou fazer um chorume pra Jesus”.
“Mãe, Jesus não come gordura!”.
A mãe deu um safanão na cabeça do filho que imediatamente a aba do boné voltou a ser reta.
“Entorta essa aba, criatura”.
O garoto ajoelhou aos pés da mãe e apertou as mãos no ababado do vestido dominical.
“Tu quer ababadar mais ainda o ababado, ô disgraça”?
“Mãe, vê se perdoa eu”!
Gentilmente a mãe acariciou o rosto do garoto e entortou novamente a aba do boné que teimosamente voltara à forma de prancha.
“Felipino, amor da mamãe, te perdoo. Agora vá na ababaia e pega uns frutos verdes que vou terminar o chorume de Jesus”.
“Mas mãe, Jesus não come gor...”
E tomou outro safanão. O garoto seguiu tristonho para a ababaia, com a aba reta novamente.
S.F.
02- a.a.rô.ni.co /a.a.rô.ni.das /a.a.ro.ni.ta /a.a.ru /ã.a.tá
Aarônico, era assim que brincávamos de chamar Aarônidas,meu
irmão,porque ele era irônico e sempre mal humorado.Um dos meus tios
chama-se Moisés,que ironicamente é gago e ateu.
Diz meu pai que a
minha irmã,que ainda está na barriga da minha mãe se chamará Aaronita.
Espero que ela se rebele e troque de nome.Durante minha infância
acordava de manhã e comia um Aaru,minha mãe preparava muito bem,coisa de
gente do Mato Grosso.Diz ela que andava com os índios quando era
pequena,deslizando pelos rios com sua ãatá,nunca acreditei.Nome do meu
pai é Marco,meu nome é Isaias Feliciano...quando crescer quero ser igual
meu pai,pastor.
L.P.
01- aal/ aalclim / aaleniano / aalênio / aaquênio /
Três irmãos, Aaleniano, Aalênio, Aaquênio, após arrastarem-se pelas
areias escaldantes do deserto, toparam com um camelo morto. A carcaça do
animal estava comida pela metade. Aalênio cheirou a carne rasgada e
avisou seus irmãos de que ainda estava fresca. Os três beberam do
sangue e comeram da carne, desesperados que estavam pelo castigo do Saara.
Aaquênio ergueu a cabeça e cuspiu tudo o que mastigava. Com terrivel
dor, espargiu pelas areias. Aalênio cheirou mais uma vez a carne,
provou mais uma vez o sangue. Olhou então para Aaleniano e disse: "Este
camelo foi abatido por mercadores da morte. Dos restos que não mais
lhes serviam, misturaram pedaços de aalclim e então besuntaram com aal
para mascarar o forte cheiro de veneno"! Ao término da fala, a garganta
em brasa, o sangue vazando dos olhos, Aalênio viu mortos os irmãos e
enterrou todo seu corpo para dentro da carcaça, de modo a servir de
aviso para outros incautos.
S.F.
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